domingo, 27 de novembro de 2011

O ônibus




            Sinceramente? Acho que todo mundo que tirasse carteira deveria ganhar um carro. Do prefeito, dos pais, do presidente, tanto faz. Fiz o exame de direção sete vezes. É muita sacanagem ter que andar de ônibus todo dia, né?
            Enfim... hoje tava naqueles dias em que o cabelo está muito feio, armado, mal das pessoas que insistem em usar o cabelo cacheado. Já entrei no ônibus pensando que todas as pessoas olhavam para mim com um olhar de pena, de desaprovação. Sentei naquelas cadeiras para velhinhos, mas logo o ônibus começou a lotar e tive que passar pela catraca. Tinha um lugar ao lado de um cara estranho (ok, agora to com a música do Los Hermanos na cabeça), mas que parecia inofensivo. Liguei meu mp3 no último volume para tentar abafar o pagode de qualidade duvidosa que tocava no coletivo.
            De repente, percebo que estou completamente esmagada no assento. Quando olho pro lado, o tal cara estranho ( e a música recomeça a tocar na minha cabeça) está completamente de perna aberta. Porra! Sei que os homens têm coisinhas que não devem ser esmagadas, mas nunca se deve esmagar uma mulher. Nunca! Abri minhas pernas também, pra ver se o cara se tocava. Capaz. Ele só fez cara de tédio e se esparramou ainda mais. Comecei a aceitar a situação, quando começo a sentir um cheiro muito forte de álcool. Pensei: pronto, é o meu perfume. Preciso de um perfume novo urgente.
            O cara que era inofensivo se levanta e senta perto do trocador pra pedir informação. A mulher que estava lá olha o cara com uma expressão de nojo e se senta ao meu lado, dizendo: “Moça, você sentiu o cheiro de cachaça curtida daquele rapaz?” Fiz que sim com a cabeça, dei um risinho e respirei aliviada, percebendo que o meu perfume não era tão ruim.

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